segunda-feira, 26 de setembro de 2011

SINDROME DE WILLIAMS (HIPERATIVIDADE)

Síndrome de Williams
Hiperatividade


Pessoas com SW geralmente são hiperativas. Segue uma reportagem técnica dirigida principalmente a psiquiatras e professores, mas é interessante que pais tenham este conhecimento também pois assim poderão entender que o comportamento "elétrico" de seu filho é uma disfunção cerebral que pode ser tratada


TRANSTORNO POR HIPERATIVIDADE
(CRIANÇA HIPERCINÉTICA, DISFUNÇÃO CEREBRAL MÍNIMA, TRANSTORNOS DISRUPTIVOS)


Escrito por Geraldo J. Ballone


É relativamente recente o interesse da psiquiatria por este distúrbio do desenvolvimento infantil e as primeiras observações que alinhavaram o quadro foram feitas por Dupré, em 1913. Em 1947, o assunto foi retomado por Strauss e Lehtinen sob a inadequada denominação de Lesão Cerebral Mínima. Em 1962, um simpósio realizado em Oxford oficializou esta patologia sob o nome de Disfunção Cerebral Mínima, tendo em vista a ausência de elementos anatomopatológicos para que justificar o antigo termo "lesão"(12). Em 1968, Paine reconhecia a Disfunção Cerebral Mínima (DCM) como a mais comum afecção emocional em crianças, estimando uma incidência de 5 a 10% na população infantil geral e, também, como a maior responsável pelos problemas de aprendizagem, de comportamento ou pelos discretos desvios do funcionamento do sistema nervoso central(13). No DSM-IV a Disfunção Cerebral Mínima aparece no capítulo dos Transtornos Diagnosticados na Infância e, dentro destes, nos Transtornos da Atenção e Comportamento Disruptivo sob a denominação de Distúrbio de Déficit de Atenção por Hiperatividade(8). No CID-10 o quadro recebe o nome de Transtorno Hipercinético, código F90. Esta subclasse de distúrbios é caracterizada pelo comportamento social disruptivo e é, freqüentemente, mais penoso para outros do que para as próprias pessoas com o distúrbio.


Segundo a CID-10, esses transtornos se caracterizam por início precoce e por uma combinação de um comportamento hiperativo com desatenção marcante e grande distraibilidade. Na infância precoce o sintoma mais evidente é a hiperatividade desinibida e pobremente organizada mas que, na adolescência, pode ser substituída por diminuição da atividade. O retardo no desenvolvimento de habilidades específicas freqüentemente estão associadas à Hiperatividade e são comuns os relacionamentos inter-sociais perturbados e pobres(9). Todos autores reconhecem, entretanto, que o convívio com estas crianças é demasiadamente penoso; elas são verdadeiras experts em despertar a impaciência nos circundantes. A característica essencial do Transtorno de Déficit de Atenção por Hiperatividade é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade e de sintomas hiperativo-impulsivos causadores de prejuízo social, familiar e escolar que aparece antes dos 7 anos. Como critério apontado pelo DSM.IV para este diagnóstico deve estar presente algum prejuízo, seja familiar, social ou escolar.


A desatenção manifesta-se em qualquer situação, seja ela na escola, nas atividades e tarefas domésticas ou mesmo no ambiente social da criança. Tendo em vista o fato destas crianças não prestarem muita atenção a detalhes, elas acabam cometendo erros simples e grosseiros nos trabalhos escolares e será este o motivo pelo qual a produtividade se encontra prejudicada.


As atividades, tanto escolares quanto de lazer, freqüentemente são confusas e realizadas de maneira estabanada, resultando muitas vezes em objetos quebrados, rasuras e outros tipos de imperfeição. A inquietação dessas crianças torna difícil a persistência em tarefas até seu término. Elas podem iniciar uma tarefa, passar para outra, depois voltar a atenção para outra coisa antes de completarem qualquer uma de suas incumbências. Freqüentemente dão a impressão de estarem com a mente em outro local, ou de não escutarem o que está sendo dito. Devido à desatenção estes pacientes freqüentemente não atendem a solicitações ou instruções ou, quando fazem, realizam as incumbências de maneira falha ou incompleta. A impaciência dessas crianças faz com que as tarefas que exigem algum esforço mental sejam consideradas como desagradáveis e acentuadamente tediosas, conseqüentemente, elas acabam evitando as atividades que exigem dedicação, atenção, organização ou concentração. Estes pacientes são facilmente distraídos por estímulos irrelevantes e, habitualmente, acabam interrompendo tarefas em andamento para dar atenção a ruídos ou eventos triviais, normalmente ignorados por outras crianças.


A maneira de realizar tarefas comumente é desorganizada e os materiais necessários para a realização das mesmas costumam estar espalhados, perdidos, manuseados com descuido ou danificados. Devido à tudo isso, estas crianças hipercinéticas se esquecem de compromissos marcados, esquecem de levar o lanche para a escola, esquecem o que foram buscar na cozinha, etc. Enfim, costumam ser rotuladas como as "desligadas" da família. Na vida comunitária e/ou nas situações de grupo, a desatenção pode proporcionar freqüentes mudanças de assunto, falta de atenção ao que os companheiros dizem, distração durante as atividades de cooperação grupal e falta de atenção a detalhes e regras em jogos ou atividades.


À inspecção notamos a hiperatividade diante da inquietação do paciente ou na maneira como ele se remexe na cadeira. Isso reflete a grande dificuldade dos pacientes em permanecerem sentados. Eles se levantam com freqüência e se remexem ou se sentam na beira da cadeira, prontas para se levantarem novamente. Manuseiam objetos inquietamente, batem com as mãos e balançam pernas e braços excessivamente. Os bebês e pré-escolares com este transtorno diferem de crianças normais por estarem constantemente irrequietos e envolvidos com tudo à sua volta. Eles costumam andar para lá e para cá, movem-se "mais rápido que a sombra", sobem e escalam móveis. Em casa estas crianças costumam abandonar a mesa durante as refeições, passam a assistir televisão e fazer os deveres de casa simultaneamente; falam em excesso e podem fazer ruídos demasiados durante atividades tranqüilas. Em adolescentes e adultos, os sintomas de hiperatividade assumem a forma de inquietação e dificuldade para envolver-se em atividades tranqüilas e sedentárias.


Outra característica da Hiperatividade é a impulsividade. Esta impulsividade se manifesta como impaciência, dificuldade para protelar atitudes, respostas precipitadas às perguntas, antes mesmo delas terem sido formuladas completamente, dificuldade para aguardar sua vez em filas e interrupção freqüente nos assuntos de outros. Não é raro que estes indivíduos façam comentários inoportunos, interrompam os outros, metam-se em assuntos alheios, agarrem objetos de outros, peguem coisas que não deveriam tocar e façam palhaçadas. A impulsividade pode proporcionar acidentes tais como, derrubar objetos, colidir com pessoas, manusear inadvertidamente uma panela quente e envolver-se em atividades potencialmente perigosas. É importante o aspecto relativamente flutuante do transtorno: há situações de exacerbação e de acalmia da hiperatividade. O quadro tende a piorar em situações que exigem atenção ou esforço mental ou que não possuam um aspecto de novidade. Escutar professores, realizar deveres escolares, escutar ou ler materiais extensos ou trabalhar em tarefas monótonas e repetitivas podem ser significativamente agravantes. Por outro lado, os sinais do transtorno podem ser minimizados quando a criança se encontra sob um controle rígido, quando o contexto tem aspectos de novidade, quando se envolve em atividades interessantes, em ambientes de poucas pessoas ou enquanto recebe recompensas por um comportamento apropriado.


A hiperatividade reflete uma inquietação excessiva, principalmente em determinadas situações que requerem calma e serenidade. São bastante desinibidas no relacionamento social, imprudentes em situações que envolvem o perigo, intrometidas, zombeteiras e quase nunca esperam sua vez nas convenções socialmente estabelecidas. Como conseqüência de tudo isso, de toda esta tormenta comportamental erroneamente referida pelos avos como vivacidade, inteligência ou outro adjetivo dissimulador, a criança hipercinética não consegue performance satisfatória no aprendizado escolar e, normalmente, nesta fase a família recorre à profissionais especializados.


SINTOMAS A


Síndrome Hipercinética da Infância é uma situação clínica muito característica e, se bem observada, dificilmente deixa alguma margem de dúvida. Considerá-la uma manifestação primária ou secundária a algum transtorno afetivo, entretanto, já é uma outra questão e merece reflexão mais profunda.


Podemos considerar a constelação sintomática da seguinte maneira:


a) distúrbios neurológicos
b) distúrbios da inteligência
c) distúrbios do comportamento
d) distúrbios escolares
e) características afetivas




Parte integrante de PsiqWeb

BALLONE, G J - Psiquiatria Infantil, in. PsqWeb, programa de Psiquiatria Clínica na Internet,
Campinas, SP, 1999